Ela se pintou e se arrumou, havia de ser hoje. Há dois meses que ela planejava o passeio com seu filho. Não queria se despedir, mas, sendo inevitável, que pelo menos ela se entendesse com ele. Pelo menos hoje.
Ele se arrumou como de costume. Sua mãe lhe diria que não se arrumou. Mas não hoje. Hoje era dia de ser paparicado. Talvez por isso vestiu sua melhor roupa.
- Você está tão bonito hoje meu filho.
Ele deu de ombros. Agradecer seria demais. Iam ao melhor restaurante, comer seu prato favorito e isso o animava. Não via a hora do dia terminar. Passear com a mãe não era de todo o mal, mas "conhecer o estrangeiro", como gostava de caçoar, era muito melhor.
Saíram de mãos dadas, como há muito não faziam. Ele nem se lembrava mais que se sentia meio ridículo, meio infantil quando ela fazia isso. Pegou sua carteira, sua mala, seu passaporte.
- Antes de sair quero te dar um presente. Mas não se anime, não é muito não.
Ele guardou o dinheiro que acabava de ganhar em sua carteira. Em sua carteira que também acabava de ganhar. Um ano de intercambio. Um ano sem pai, mãe, notas ou trabalhos maçantes.
Ela pegou uns trocados que estavam em cima da mesa, para alguma emergência. Ela ainda se perguntava se teria coragem de ver seu filho partir por um ano quando ele finalmente abriu a porta do apartamento e chamou o elevador.
- Vamos mãe
Desceram os dois e pegaram o carro. Ele ia dirigir. A mãe pensava que assim ele poderia sentir falta dela. Ela sabia que ele sentiria. Mas deixou ele dirigir assim mesmo. Ele estava animado. Guiou com uma prudência que nem ele mesmo sabia que tinha. Parou no vermelho, esperou os pedestres. O dia seria perfeito.
A mãe a observar as árvores, o garoto a guiar, o mundo a rodar. Era tudo poesia. E no clichê da alegria os dois sorriam. Abraçaram-se e almoçaram sem discussões ou brigas. Resolveram tomar um sorvete. Deixaram o carro no estacionamento e foram aproveitar o dia que estava a servi-los.
- Passa a bolsa madame
No meio do passeio havia uma pedra. E ela se mexia e gritava. O garoto num repente de super-herói conheceu o mundo real. E tomou um tiro. E caiu. Duro. A mãe vendo a cena começou a chorar, gritar e a chamar. Por deus.
O mendigo estava posto ali à sua frente. Arma em punho, vontade na cabeça, ordens à boca. Ela não tinha escolha. A tristeza invadiu seu corpo, assim como o mendigo, e seu pensamento estava fixo como seus olhos.
- Meu filho... meu filho...
O mendigo pegou a bolsa e a carteira do filho. Subiu a calça e se foi.
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