O que você quer eu não posso dizer.
E quando você pensa em dizer eu desisto de ouvir.

O que você acha que quer, mas não quer insistir?

Todos os dias eu vou e volto até a estrada e descubro que a noite é igual.
Como eu. E não me peça para mudar. Demorei para me engessar.

O que você esperava de alguém que já não espera nada?

O que você de mim quer eu não quero nem pensar.
E se o penar é alto demais, adeus. Não é assim tão difícil dizer.
Já não penso em precipício, me jogar com alguém, nem em piscina de bolinha...

Mas não me pensa nem insista.
O que você quer eu não posso dizer.

E quando ouço alguém dizendo o mesmo me parece fantasia.

Algo como um Sol que se põe ao longe, num filme. Bonito de ver, difícil de acreditar.
O preço que me cobra é alto demais.

E eu sou baixo demais.
A noite é longa minha amiga.
A noite é longa e és minha amiga.
Esqueças as bobagens que te disse.
Esqueças os poemas que te escrevi.

A noite é longa e minha amiga.
Ainda há tempo para descobrires.
As palavras que engoli em vão.
As palavras que engoli para ter razão.

A noite é dia hoje.
"A lua é mais benigna que o Sol;
alumia mas não brasa"
E hoje, a noite terá fogo.

É noite, minha amiga.
Esqueça o que te disse enquanto era dia.
É noite, minha amiga.
Esqueça o que sonhaste enquanto dormia.

É noite.
Se for falar de tristeza não pense em lágrimas
se for escrever poesia de entristecer não molhe palavras
se for ouvir música que esconde o sol não veja as nuvens.

Porque não é ali que reside tudo aquilo que é triste,
não é ali que a alma suspira e olha para cima,
procurando a alma d'alma.

Não é no rosto deprimido de um não que reside a dor,
mas na lembrança de tanto sim que passou.
Um papel enrolado, cheio de notícias escritas.
Um papel usado, cheio de notícias velhas.
Um pedacinho assim, que mais parece brinquedo.

Uma folha frágil, cheia de opinião inútil.
Uma folha volátil, cheia de paradoxos.
Um pedacinho assim, onde uma criança passa cola.

Uma série de palavras amontoadas, sem muito sentido.
Uma série de urgências acaloradas, sem muito espírito.
Um pedacinho assim, que vai enrolando num cesto.

A criança mostra a todo mundo:
palavras, notícias, urgências;
nada disso tem importância,
se não virar brinquedo depois.
Eu me sento e a luz da lua me ilumina.
Eu me sento e, para falar a verdade, já não há luz que ilumine.
Nem lua. Nem eu nenhum.

Eu me pego pensando nas coisas que fiz.
E concluo que nada fiz. Nada que mudasse o mundo.

Eu me sento e já não há mundo.
Me levanto e me lembro do mestre.

E lembro que a metafísica é apenas a consequência de estar mal disposto.
E me lembro da pequena comendo chocolates. Mas já não há pequenas, nem chocolates.

Uma boa lembrança seriam os chocolates. Um doce sentimento que derreteu.

Eu me sento e me pergunto:

Por onde andará a lua
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