Um céu -  que nasceu cinza e ficou azul e se calou rosado - passou por mim hoje.
Uma janela - que mostrou o céu nascer cinza, azular e 'rosa-morrer' - se postou diante de mim hoje.
E os sonhos que me acompanharam por breves momentos deram espaço à já conhecida e (nem tão) amiga insônia.

E ai de mim se abrir a boca para reclamar.

Há sempre milhões de soldados feridos, meninos bandidos e outras mazelas cujas dores serão sempre infinitamente maiores que as minhas.
Haverá sempre milhões de amigos prendados, companheiros armados e outros seres dispostos a darem uma solução digna e retilínea para meus problemas.

E ai de mim se abrir a boca para reclamar.

Um céu - e ainda que fossem dois ou três ou quatro mil - que não comporta a minha 'felicidade-monstro' bicho inexistente mas que pronto se posta logo aí, presente.
Uma janela - que mostro às vezes ao cobertor, travesseiro ou consciência que valha - da qual não entram pingos de chuva mas caem lágrimas de sal (como o suor dos soldados sofridos).

E ai de mim se abrir a boca para reclamar.

Haverá sempre um para demonstrar com clareza filosófica - destas filosofias que não são de alcova mas cairiam bem a uma prisão - que minha dor não é mais do que o resultado de uma vida de privilégios.
Há sempre algum privilégio para desqualificar a dor.

E ai de mim se abrir a boca.

3 comentários:

Josy disse...

"Há sempre algum privilégio para desqualificar a dor". Lindo isso, embora real e triste. Vivemos em um mundo em que sofrer não nos é permitido."E ai de mim se abrir a boca para reclamar".Linda poesia. Bjs

Jaque disse...

Os versos são realmente muito bonitos... E se a tristeza é reprimida na vida real, o mesmo não se pode dizer da vida literária... "Pois p/ fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza"...
Bjos!

Victor Amatucci disse...

Brigadin

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