Um céu - que nasceu cinza e ficou azul e se calou rosado - passou por mim hoje.
Uma janela - que mostrou o céu nascer cinza, azular e 'rosa-morrer' - se postou diante de mim hoje.
E os sonhos que me acompanharam por breves momentos deram espaço à já conhecida e (nem tão) amiga insônia.
E ai de mim se abrir a boca para reclamar.
Há sempre milhões de soldados feridos, meninos bandidos e outras mazelas cujas dores serão sempre infinitamente maiores que as minhas.
Haverá sempre milhões de amigos prendados, companheiros armados e outros seres dispostos a darem uma solução digna e retilínea para meus problemas.
E ai de mim se abrir a boca para reclamar.
Um céu - e ainda que fossem dois ou três ou quatro mil - que não comporta a minha 'felicidade-monstro' bicho inexistente mas que pronto se posta logo aí, presente.
Uma janela - que mostro às vezes ao cobertor, travesseiro ou consciência que valha - da qual não entram pingos de chuva mas caem lágrimas de sal (como o suor dos soldados sofridos).
E ai de mim se abrir a boca para reclamar.
Haverá sempre um para demonstrar com clareza filosófica - destas filosofias que não são de alcova mas cairiam bem a uma prisão - que minha dor não é mais do que o resultado de uma vida de privilégios.
Há sempre algum privilégio para desqualificar a dor.
E ai de mim se abrir a boca.