É que sou velho já e soube da história verdadeira e real, porque eu estava lá. Aquela bola amarela que aparece no pano escuro é muito diferente da outra, que faz arder os olhos.
Ninguém me contou o que vou narrar. Quero dizer, as minhas lembranças me contaram, mas aí não conta, ou conta? Faz de conta que não conta.
Antigamente não era assim. Não havia bola nenhuma. E tudo era azul. Ou preto. Nem os pontinhos brancos, que hoje chamam de estrelas, estavam aí.
Quando eu era "pequeno-mas-não-muito" eu gostava de andar a esmo. Daqui para lá, de lá para adiante, de adiante para longe e, às vezes, voltar.
É como diz aquele livro cheio de aventuras:
"Se não prestarmos atenção em nossos pés eles nos levam para o desconhecido"Bem, não era exatamente assim, mas gosto das coisas do jeito que elas me vem à cabeça, de memória. Perfeição é um troço muito chato.
Uma vez, quando eu estava longe, conheci uma dupla meio estranha. O nome dele é coisa que se perdeu no tempo antigo e o dela era Luana (e agora as coisas até que ganham um pouco de sentido).
O caso é que moravam, os dois, em uma floresta. Eu havia me perdido, estava seguindo as pistas de um cavalo bem bonito que eu queria acarinhar.
Cada vez que eu chegava perto do bicho ele corria com medo de mim. Eu a sorrir e ele a fugir.
Não posso dizer como era o tal cavalo porque já não sei. Mas foi admirando sua crina e tentando roubar um pouco para meu violino (que perdi já não lembro onde) que o dia terminou.
E assim, de uma hora para outra, estava escuro. Quando olhei para o lado havia ervas e árvores, mas não havia gente. Percebi que estava perdido e fiquei com medo.
Uns sons estranhos pularam do meio do pano preto e eu estava quase chorando quando vi uma luz na copa de uma árvore ao longe.
Entre chorar e andar eu preferi o andar. Os detalhes não sei direito. Estava escuro e eu com lágrimas escorrendo. Conforme eu disse, enxuguei a água e mexi meus pés.
Cheguei àquela luz, ou melhor, na árvore de copa estranhamente acesa. Eu gritei. A luz apagou. Quando eu estava quase molhando a bochecha com sal ouvi alguém me chamar.
Olhei para trás e e pensei ter visto um bruxo, mas logo vi que eram duas pessoas:
- Me chamo Luana - disse a menina
- Me chamo - disse o menino
O nome dele eu esqueci mas não importa para a estória. Foi desta forma que eu conheci os dois. Eram pessoas bacanas, quer dizer, eram só bacanas, porque gente eles não eram...
Na verdade eram criados pelo tal bruxo e agora eu acho que tinha mesmo visto o tal sujeito. O menino chamou para dormir na casa deles e o mais velho concordou, por isso eu fui.
Fiquei por lá um tempo grande. Conheci o menino e a menina bem bastante. mas tinha um problema: começaram a brigar demais.
Era um "gostar-desgostando" o que sentiam aqueles dois. Um dia, numa grande discussão, o bruxo apareceu. E viu os dois brigando e reclamando e jogando árvores ao chão e pisando nas flores. E estes pisões foram coisa que o bruxo não gostou.
E avisou uma e duas vezes mas a dupla não aprendeu. Foi assim que a coisa toda aconteceu.
Num dia de mal humor, ao ver a dupla pisar num Girassol (e agora lembrei que era esse o nome do menino)o bruxo os amaldiçoou:
Enquanto não fizerem as pazes ficarão grudados no céuGirassol com o tempo virou Sol. E Luana virou Lua. E as estrelas sou eu.
0 comentários:
Postar um comentário