Começa a tocar aquela música e logo imagino aquele momento.
E antes que a sensação boa flua por toda a pele aquela outra sensação toma conta.
E antes que a música acabe já estou arrependido de ter lembrado de tantas sensações.
E arrependido de começar a escrever.
E já não sei se escrevo àquela que era dona da música,
ou àquela que é dona dos meus sentimentos,
ou àquela outra na qual me vejo, e a vejo, imaginando a si mesma enquanto lê.
E me arrependo de ter continuado a escrever.
A música encerra e recomeça.
E já não sei que memórias acionar e que memórias abandonar.
Há tempos que venho tentando descrever e me pergunto:
seria descrever o ato de apagar?
E me arrependo ter escrito e descrito e lembrado e esquecido.
E me arrependo de ter vivido. Porque dói depois que a gente morre.