"Deixe-me ir, preciso andar." E com essas palavras levantou-se ela num sobressalto e vestiu seu nu mais bonito. E sorriu uma cantiga de ninar. E seu caminhar ganhou um suave balanço.

Passou entre as árvores que traziam já o outono e delicadamente pisou sobre as folhas amareladas e marcou seu caminho na terra úmida.

"Quero assistir ao Sol nascer, ver as águas dos rios correr, ouvir os pássaros cantar. Quero nascer, quero morrer".

E o destino sério, cantou uma cantiga. As vozes ficaram ali, bailando no ar e uma série de clichês davam um tom brilhante entre o amarelo e o laranja, ofuscando a visão dos animais do dia, sem, no entanto, permitir a visão dos animais da noite.

Foi quando o vento sussurrou:

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Conta a velha lenda que a bela princesa guarani dançou, mais uma vez, na beira da cachoeira, por seu amor.

Ao som do vento, remexeu suas tatuagens de urucum e jenipapo delicadamente para a lua, até cansar seus pés.

Deitou-se na terra e o rio, que apaixonara-se pela delícia daquele balanço, levou-a para o fundo de seu leito, para vê-la,
também, à luz do sol.

Quando, enfim, a primavera voltou, trazendo as pétalas aveludadas aos gramados e a brisa pueril aos matagais, a lua entendeu o que era saudade.

Chorando estrelas, percebeu o amor por aqueles pequenos traços morenos e minguou, implorando às águas sua amada de volta.

As lágrimas incandescentes, no negro oceano, ecoaram a triste verdade que vinha de longe: já era, assim, tarde demais.
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(conto de Victor Amatucci, poesia de Márgara Squeff)

2 comentários:

Marcos Lemos disse...

Só posso dizer que é brilhante.
Excelente métrica e poesia. É de mergulhar em cada palavra e ler várias vezes até decorar.

Jaque disse...

E se ele por mim perguntar
Diga que se eu me encontrar
Eu não vou voltar...

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