Os pensamentos me passam na alma, como aqueles de que tanto me falaste. Uma cratera, no meio da cidade.Em cima da cratera muita terra e entulho. Em cima do entulho helicópteros passam. Para evitar o trânsito. Tanta tecnologia.
É um desânimo frio. É uma uma lembrança dinâmica. É uma dor estática.
É uma estátua de ferro. E pés de aço. É um véu que toma o corpo.
É uma dúvida certa. E uma certa dúvida. É um crime pagão. Criminoso cristão.
É tudo e não é nada.
É crer onde não há crença. É a crença de não crer em nada. É sorrir chorando.
É chorar e não rir. É oposição e situação. É situação oposta ao que se diz.
É o inominável, o fim de partida. É literatura e é drama. É drama e não é teatro.
É tudo e não é nada.
É a lembrança que machuca. O machucado que faz lembrar. É o corpo estafado.
É falar e não ouvir. É não ouvir falar. É comer a própria fome. E sentir o ar.
É uma densa névoa, sem guerra. É uma guerra sem névoas. É tiro e paz.
É tudo e não é nada.
Fecho os olhos e corro. Percorro, pontuo, paro. Fecho os olhos, lembro do tópos, lugar comum, ordinário, repetitivo, usado tanto na poesia, para facilitar a memorização, quanto em minha memória, para facilitar a visualização.
E quanto mais explico, conecto idéias, escrevo, penso, cada vez que alguém diz teu nome, teu apelido, teu rosto, teu corpo; cada vez que vejo tua boca, minhas memórias abrem a tranca da poça d'água salgada, que não devia cair, nem rolar, nem nada.
Um nada doído. Um nada que é tudo e por isso é nada. Um nada confuso, como isso que escrevo. Se o que sinto não pode ser descrito, se fica confuso, é porque não há explicação lógica, não há realidade, não há racional ou emocional que tenha, para tantas lembranças, descrição possível.
E se comparo à dor da amiga, dor de gente falecida, dor de gente doída, pode até parecer que, de fato não é nada. E é por isso que escrever é sempre mais de uma dor. A de lembrar, de escrever, de corrigir, de organizar. E decepcionar, porque o sentir é sempre maior.
Hoje não.
Hoje só confusão. Hoje sem rojão, hoje qualquer palavra entra. Qualquer bebida refresca, hoje tudo é outra coisa. Hoje tudo é você. Hoje tudo sou eu.
Hoje sou só ontem.
E quanto mais explico, conecto idéias, escrevo, penso, cada vez que alguém diz teu nome, teu apelido, teu rosto, teu corpo; cada vez que vejo tua boca, minhas memórias abrem a tranca da poça d'água salgada, que não devia cair, nem rolar, nem nada.
Um nada doído. Um nada que é tudo e por isso é nada. Um nada confuso, como isso que escrevo. Se o que sinto não pode ser descrito, se fica confuso, é porque não há explicação lógica, não há realidade, não há racional ou emocional que tenha, para tantas lembranças, descrição possível.
E se comparo à dor da amiga, dor de gente falecida, dor de gente doída, pode até parecer que, de fato não é nada. E é por isso que escrever é sempre mais de uma dor. A de lembrar, de escrever, de corrigir, de organizar. E decepcionar, porque o sentir é sempre maior.
Hoje não.
Hoje só confusão. Hoje sem rojão, hoje qualquer palavra entra. Qualquer bebida refresca, hoje tudo é outra coisa. Hoje tudo é você. Hoje tudo sou eu.
Hoje sou só ontem.
- E foi assim que tudo terminou?
É que à época não havia isso que chamamos de memória. Você pode achar que é desagradável, mas tem também seu lado bom. Depois que a gente faz algo de errado, não precisa se culpar. Mas há seu lado ruim, uma vez ouvi de alguém uma história bem assim...
- Foi, acho que ficou bravo comigo, deu um sorriso e disse adeus. Mas agora eu já esqueci, nem sei mais como era o rosto e o que falou...
É que à época não havia isso que chamamos de memória. Você pode achar que é desagradável, mas tem também seu lado bom. Depois que a gente faz algo de errado, não precisa se culpar. Mas há seu lado ruim, uma vez ouvi de alguém uma história bem assim...
Começa a tocar aquela música e logo imagino aquele momento.
E antes que a sensação boa flua por toda a pele aquela outra sensação toma conta.
E antes que a música acabe já estou arrependido de ter lembrado de tantas sensações.
E arrependido de começar a escrever.
E já não sei se escrevo àquela que era dona da música,
ou àquela que é dona dos meus sentimentos,
ou àquela outra na qual me vejo, e a vejo, imaginando a si mesma enquanto lê.
E me arrependo de ter continuado a escrever.
A música encerra e recomeça.
E já não sei que memórias acionar e que memórias abandonar.
Há tempos que venho tentando descrever e me pergunto:
seria descrever o ato de apagar?
E me arrependo ter escrito e descrito e lembrado e esquecido.
E me arrependo de ter vivido. Porque dói depois que a gente morre.
E antes que a sensação boa flua por toda a pele aquela outra sensação toma conta.
E antes que a música acabe já estou arrependido de ter lembrado de tantas sensações.
E arrependido de começar a escrever.
E já não sei se escrevo àquela que era dona da música,
ou àquela que é dona dos meus sentimentos,
ou àquela outra na qual me vejo, e a vejo, imaginando a si mesma enquanto lê.
E me arrependo de ter continuado a escrever.
A música encerra e recomeça.
E já não sei que memórias acionar e que memórias abandonar.
Há tempos que venho tentando descrever e me pergunto:
seria descrever o ato de apagar?
E me arrependo ter escrito e descrito e lembrado e esquecido.
E me arrependo de ter vivido. Porque dói depois que a gente morre.
O coração seria uma represa.
Os olhos hidrelétricas.
As veias seriam rios.
E sentimentos eletricidade.
Os olhos hidrelétricas.
As veias seriam rios.
E sentimentos eletricidade.
Se tudo fosse simples...
O coração teria visão.
O coração teria visão.
Os olhos sentimentos.
As veias todas teriam sangue.
E a alma teria nervos.
Se tudo fosse simples...
As hidrelétricas fariam quimeras.
As represas teriam vida.
Os rios teriam o que pescar.
E a eletricidade não seria coisa a se cobrar.
Se tudo fosse simples...
Mas continuo na marginal.
E meu sangue não tem mais cor.
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