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eu a chamava de amêndoa
achando que combinava com o caminhar

longas pernas, passos curtos, cabelos ao vento
um sutil e delicado rebolar

dedos magros, unhas vermelhas, ombros desnudos
aquela onda toda ao pisar

e eu a chamava de amêndoa
ria alto, enchia a boca
só para ela parar e me beijar
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Fazer o quê com a falta daquilo que você nunca me deu? Fazer o quê com as criações todas dos meus sonhos (sonhados em conjunto, num conjunto solitário)?

Dizem que vive, ali sob a Baía de Guanabara, um 'pequeno se'. A ressaca do mar, segundo dizem, é a saudade que sente de um grande amor.

Em frente à Baía de Guanabara é que se conheceram, meio por acaso, dizem...
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ELA: Não dá mais.
ELE: Éé....
ELA: É sério, não temos mais um nós. Acho melhor acabar.
ELE: Vai lá. Como mês passado, né?
ELA: Não, amor, é sério. Preciso saber o que tu pensa, se não acha que é melhor.
ELE: Ah, mulhé, pára de loquiar. Vem ver futebol aqui.
ELA: Ok, era tudo que eu precisava ouvir.

[Silenciosamente, ela deixa a sala, vai para o quarto, arruma a mala.
Meticulosamente, ela seleciona as roupas que mais gosta, as mais caras, as melhores e - obviamente - as mais desnecessárias.
Carinhosamente, cheira o colchão em busca de lembranças doloridas.
Vagarosamente, volta - pronta - para a sala.]

ELE: Tá, hoje resolveu encenar sério. Hahahahaha
ELA: Eduardo, eu vou embora. Amanhã minha mãe vem buscar o resto das minhas coisas.
ELE: Hahahahaah Até de Eduardo resolveu me chamar. Aqui ó, cansei disso.
ELA: Eu também.
ELE: Se tu pisar um pé por aquela porta afora, tu não entra mais mesmo. Cansei dessas ceninhas.
ELA: Não esquece que eu te amo mais do que tudo.
ELE: Pois deixe de me amar ali no corredor já.
ELA: Não precisarei chegar até o corredor.
ELE: Tá, vai lá. Pode me deixar. Tu nunca vai me esquecer.
ELA: Eu sei disso.
ELE: Tu nunca vai encontrar alguém que te ature como eu. Volta pra cá que eu faço de conta que nada aconteceu.
ELA: Não. Esta é a única vez séria que faço isso, Eduardo.
ELE: Tu nunca vai me esquecer, mulher.
ELA: Eu já te disse que sei disso. Sempre saberei.
ELE: Tu mesma disse milhares de vezes que eu mudei tua vida. Vem cá.
ELA: Te disse sim. Mas tu acreditou nisso e não eu.

[Aliviadamente saiu pelo corredor.
Aquela porta nunca mais foi fechada.]
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Ele me acorda perguntando: ~ o que foi que eu fiz?

Tentando não gritar de novo, cochicho: ~porra, é sério que preciso dizer?

É sério que preciso dizer que tu abala minhas estruturas?

É sério que preciso dizer que me sinto uma completa imbecil por pensar em ti pelas ruas?

É sério que preciso dizer que há muito tempo alguém não entrava tão fundo nesse jardim completamente fechado?

É sério que preciso dizer que isso é a coisa mais estúpida e mais linda que me aconteceu nos últimos tempos?

É sério que preciso dizer que tu não entendeu que eu me apaixono por 32 segundos e depois desapaixono?

É sério que preciso dizer que já se passaram 32 segundos?

E é sério que preciso dizer que já se passaram mais de 32 dias até?

Voltei minha cabeça no travesseiro.

Nunca uma xícara de café foi tão silenciosa como a que veio em seguida.

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